Botas Salto Agulha

Botas Salto Agulha

terça-feira

As Razões do Amor

Os místicos e os apaixonados concordam em que o amor não tem razões...

Ele é como a rosa: " A rosa não tem 'porquês', Ela floresce porque floresce".

As sem razões do amor.

Não é que faltem razões ao coração, mas que suas razões estão escritas numa língua que desconhecemos....

A verdade essencial é o desconhecido que me habita e a cada amanhecer me dá um soco.

O amor será isto: um soco que o desconhecido me dá?

Ao apaixonado o decifrar desta língua está proibida, pois se ele a entende, o amor se irá.

Foi assim que o paraíso se perdeu: quando o amor, não contente coma sua felicidade, se deixou morder pelo desejo de saber. O amor não sabia que a sua felicidade só pode existir na ignorância de suas razões...

Quero decifrar sua língua. Procuro as cem razões para o amor...

Imaginem se um apaixonado fizesse essa pergunta a sua amada: "Que é que eu amo quando te amo?" Seria, talvez, o fim de uma história de amor. Pois esta pergunta revela o segredo que nenhum amante pode suportar: que ao amar a amada o amante está amando uma outra coisa que não é ela. ...

O que amamos é sempre um símbolo. Daí a impossibilidade de fixar o seu amor em qualquer coisa sobre a terra.

Variações sobre a impossível pergunta: Te amo, sim, mas não é bem a ti que eu amo. Amo uma outra coisa, que não conheço, mas que me parece ver aflorar no teu rosto. Eu te amo porque no teu corpo um outro objeto se revela.

te abraço para abraçar o que me foge. Ao te possuir alegro-me na ilusão de te possuir...

Mas, por ser graça _ que desceu sobre ti, sem razões, da mesma forma como desceu pode de novo partir. Se isto acontecer deixarei de te amar. E minha busca recomeçará de novo...

Esta é a dor que nenhum apaixonado suporta. A paixão se reduza a saber que o rosto da pessoa amada (presente) apenas sugere o obscuro objeto do desejo (ausente). A pessoa amada é metáfora de uma outra coisa...

"O amor começa no momento em que uma mulher se inscreve com uma palavra em nossa memória poética."

Temos agora a chave para compreender as razões do amor:

o amor nasce, vive e morre pelo poder _ delicado _ da imagem poética que o amante pensou ver no rosto da amada...



Ruben Alvez

Nenhum comentário: