Este texto foi baseado em um sonho que tive logo após o Natal deste ano (2009). Como em todos os sonhos, os recursos imaginativos são intermináveis e nem sempre devem ser relatados. Se é que me faço entender... Brincando com as palavras, faço deste episódio uma narrativa.
Crica Fonseca
Estávamos todos em uma casa enorme que ficava em um condomínio muito muito distante. Era formado por casas enfeitadas e lindas com seus jardins iluminados. Pessoas de todas as idades eram vistas pelas infinitas ruelas e dentro das grandes e luxuosas casas. A casa onde eu estava tinha dois andares, era de cor clara, como se fosse perolada. Havia uma larga escada para os cômodos superiores e um mezanino voltado para a sala de jantar. Foi neste mezanino que comecei a observar a beleza das cores que esta época do ano exulta. Fiquei observando também as pessoas na sala de jantar: meu irmão mais velho e sua uma namorada; minhas tias; uma menina de aproximadamente cinco anos correndo para cima e para baixo com seu vestido rodado; outras crianças próximas aos seus pais; minha mãe estava na cozinha, preocupada com a ceia e pedindo minha ajuda para arrumar a mesa e fazer a decoração dos pratos a serem servidos_ como acontece em todos os Natais; meu pai conversando com amigos; minha irmã preocupada com a sua aparência e insegura com seu vestido. Alguns cantarolavam, outros conversavam e riam. Todos estavam em pares, mas eu estava sozinha. Afinal de contas eu ainda não tenho filhos e nem marido. E neste Natal especificamente, nem um namorado se quer. // Minha tia, que também morava em uma das exuberantes casas daquele local, disse a todos que havia uma Igreja na entrada do condomínio e que o Pároco havia convidado a comunidade para assistir a Missa do Galo na própria comunidade. As pessoas se apressavam para conseguir um bom lugar dentro da Igreja antes que ela ficasse lotada. Sinceramente, eu demorei um pouco para sair porque não me animei com o fato de assistir a Missa. Então, eu saí vagarosamente e resolvi dar uma volta sozinha pelas ruas do condomínio para ver as casas. // Fui andando, andando, andando... Distraí-me com os detalhes das estruturas das casas. Olhei minuciosamente os acabamentos, telhados, portas, janelas, portões e jardins. Eu não pude deixar de admirar o mal gosto de algumas pessoas quando decoram suas casas para o Natal, mas a maioria das casas eram belas e harmônicas. // Entre uma rua e outra, uma subida e uma decida, eu me perdi e não sabia mais como voltar para casa. Comecei a ver que eu estava andando em círculos e passando novamente pelas mesmas casas. Percebi que os visinhos estavam sentados à mesa dentro de suas casas. Comecei a ficar preocupada. Será que estão sentindo falta de mim? Na tentativa de chegar até a portaria fui seguindo o grande muro que limitava a área do condomínio. De acordo com o que eu havia entendido ficava próxima a Igreja onde todos estavam e pensei que esta seria a melhor forma de me localizar ou para pedir algum tipo de informação. // Meus pés começaram a doer, andei bastante e nada de encontrar a portaria. Tirei o salto alto, eu já estava parecendo uma pessoa não muito normal andando daquele jeito. Nossa! Eu estava contornando uma verdadeira cidade. Aonde fica a entrada? Mas o que eu queria mesmo era encontrar um lugar para eu sentar e descansar um pouco. Maldita hora que eu resolvi sair para caminhar sozinha! Sentei-me na entrada de uma casa, entre o jardim e a pista. De repente um farol na minha cara. Dois sujeitos mal encarados dentro do carro quase me atropelaram. Dei um pulo e meu coração estava na mão. Eu deveria estar parecendo uma louca, descabelada, descalça e sem rumo. Continuei minha saga. // Pelas janelas eu vi que as pessoas já estavam abrindo os presentes. Dei algumas risadas vendo alguns homens vestidos de Papai Noel e entregando presentes. Foi quando eu avistei a portaria. Minhas energias se renovaram quando eu vi também a Igreja. Para minha sorte, minha mãe e meu pai estavam sentados do lado de fora assistindo a Missa através de um telão porque só restavam estes lugares. Foi quando eu gritei: _ Mãe! E ela me disse: _ Calma, minha filha! Estou vendo a Missa do Galo. Não faça barulho está na hora da Comunhão. Expliquei a ela que eu não sabia como voltar para casa onde estávamos comemorando o Natal e que pensei que eles pudessem estar me procurando. Ela estava tranqüila e apenas respondeu: _ Está tudo bem. A casa é logo ali. Entre na terceira rua nesta direção. Ainda não fizemos a ceia porque eu e seu pai estamos aqui. Aliviada eu fui seguindo as instruções. // Esbarrei com crianças e seus brinquedos do lado de fora das casas. Eram bicicletas, velocípedes, carrinhos de bonecas, carrinhos de controle remoto, bonecas e bonecos de todos os tipos. Os adultos e eu também nos divertíamos com a felicidade das crianças. Até que eu passei pela terceira ou quarta vez enfrente a uma casa que muito me chamara atenção por causa da quantidade de crianças e apenas uma bonita mulher alta de cabelos longos ceando com todas no segundo pavimento. Eu estava perdida novamente! Senti um nó na garganta e uma vontade enorme de chorar. Não agüentava mais andar e não chegar a lugar nenhum. // Parei por alguns instantes. Olhei uns adolescentes brincando com uma moto, pensei que eu poderia pedir uma carona para eles, mas eu estava me sentindo ridícula demais e não queria passar vergonha. Vi um carro todo enfeitado e engraçado passando pela rua, ele estava com um homem vestido de Papai Noel ao volante. Parecia um trenó e estava bem ornamentado. Como alguém tem coragem de fazer isso com um carrão caro como este? O cara que dirigia estava sorridente, mas já não estava mais com suas barbas brancas. Deveria ter entre trinta e cinco e quarenta anos, conhecia todo mundo porque todos os cumprimentavam calorosamente. Depois que ele passou me dei conta da minha desgraça novamente... Perdida, com frio, com fome e sozinha! // Criei coragem e chamei um menino japonês que passeava com seus amigos e suas bicicletas. Disse a ele que eu estava perdida e queria voltar para uma casa onde estávamos, eu e minha família, comemorando o Natal. Perguntei se ele poderia me ajudar. Ele respondeu carinhosamente para que eu ficasse parada naquele lugar que ele iria chamar alguém para me levar dentro de um carro até o local desejado, já que eu estava exausta. O menino japonês de cabelos longos subiu a rua correndo. Pensei que talvez eu devesse perguntar a um adulto e não a uma criança, mas fiz o que ele pediu. // Não demorou, e ele surgiu ao final da ladeira trazendo aquele homem parcialmente vestido de Papai Noel que estava dentro do carro-trenó. Os dois de aproximaram e o menino falou: _Ele pode te ajudar! Agradeci e fiquei com as pernas bambas. Não porque eu iria voltar para a casa, nem porque o homem segurava um lago cinto de couro preto que deveria estar sob o vermelho da fantasia de bom velhinho, de mas porque aquele homem desconhecido era lindo! O homem sorriu e pediu para que eu o acompanhasse até a casa dele para entrarmos no carro que me leveria para casa. Durante a subida da rua eu expliquei para ele a minha trágica situação. Ele riu, e disse para eu ficar tranqüila porque eu havia sido salva pelo Papai Noel. Pensei: _E que Papai Noel mais charmoso! Ele tinha um sorriso encantador, eu comecei a não querer mais voltar para a festa onde estavam meus conhecidos. // Avistei a garagem, o carro era mais novo do que eu imaginava. Pensei comigo _ Ele deve gostar de aventuras, pois só um aventureiro teria a coragem de andar por aí arriscando transformar um corolla em renas natalinas! Entramos na casa dele e logo na sala estava um senhor franzino sentado numa cadeira de balanço. _ Este é meu pai! Moramos aqui eu, meu pai e minha filha que está na casa da mãe esta noite. Espere um instante, vou buscar as chaves. Disse ele arrumando um cobertor que aquecinha o velhinho. Conversei um pouco com o senhorzinho e percebi que ele era uma pessoa muito agradável. // Quando ele desceu e fomos até a cozinha para eu tomar um copo com água. Enquanto eu bebia água, ele ajeitava o pai para dormi. Fiquei observando a casa, parecia mesmo que ele era solteiro. _Vamos lá? Disse o charmoso Papai Noel. Ele era muito bonito, mesmo sendo meio gordinho. Eu nunca senti atração por homens com barriguinhas que usam roupas vermelhas e botas do lado de fora da calça, desta vez acho que foi diferente! Queria ter ficado ali com aquela amável figura estranha. Pensei na minha família e no que deveria estar acontecendo por lá. Infelizmente, fiquei sem jeito para pedir para usar o telefone ou o celular, talvez eu pudesse avisar meus pais onde eu estava e ficar mais alguns minutos com ele. // Entrando no carro tentei ser o mais objetiva possível para chegarmos até a minha tão esperada casa da festa. Pelo caminho fomos conversando e o meu encantamento foi crescendo. Ele me contou que combinou com algumas famílias do condomínio que passaria entregando presentes para as crianças. Ele havia crescido naquela casa com os pais e irmãos, todos haviam deixado esta vida, e hoje cuidava do pai doente _ um dos primeiros moradores do condomínio e que sempre foi amigo de todos. Depois que se formou, tornou-se um advogado bastante requisitado e não conseguia mais dar atenção aos visinhos e amigos de infância. Inventou esta estória de ser Papai Noel nos últimos dois anos, depois do divórcio, porque se sentia muito sozinho nesta época do ano. A molecada que fazia parte do time que futebol que ele ajudava finaceiramente e contratou treinadores especializados para os grupos que treinavam aos sábados pela manhã, também se comprometia a ajudá-lo em suas campanhas. // Ele perguntou o porquê de eu estar andando sozinha. Eu respondi dizendo que todos estavam ocupados com os seus filhos e companheiros. Continuei como uma metralhadora dizendo que eu havia aprendido a lidar com a minha liberdade depois de tanto tempo sozinha como ele. Eu estava apenas exercendo o meu poder de ir, vir e permanecer ou não, sem ter que dar satisfações. Quando me vi falando estas palavras fiquei preocupada comigo mesma. Será que eu estava sendo demais? Eu poderia estar verdadeiramente me apaixonando por um gordinho vestido de Papai Noel? Isso só pode ser maluquice minha, imagine! // Em um determinado momento, acho que ele começou a parecer meio maluquinho como eu, tive a impressão que ele queria ficar um pouco mais comigo se realamente pudesse. Eu concluí que só poderia ser uma grade ilusão da minha cabeça porque ele estava me ajudando e sendo gentil naquele momento tão difícil. E, finalmente, encontramos a casa e finalmente cheguei para brindar o Natal trazida, literalmente, pelo Papai Noel. Ainda bem que ele trocou de carro para me trazer e não veio com aquele carro enfeitado, foi bem mais discreto desta vez. // Descemos do carro e o convidei para entrar, ele não aceitou. Deveria estar cansado de tanto andar distribuindo presentes. Agradeci tamanha paciência e generosidade, acabei dando um abraço espontaneamente nele. Depois fiquei sem graça, claro! Minha mãe acenou, ela parecia não ter sentindo minha ausência. Todos estavam alegres e achei sinceramente que eles pensavam que eu estivera por ali o tempo todo. Ele entrou no carro, ligou o motor e perguntou: O que você acha de passar resto da noite de Natal na companhia de um Papai Noel? Depois de estar com sua família, posso passar aqui e apanha-la. Respondi: _Eu aceito! Marcamos para duas horas depois. // Ninguém me perguntou muita coisa, eu também estava tão sorridente que nada de mal poderia ter me acontecido durante o tempo que estive longe da casa. Aos poucos as pessoas foram deixando a festa, todos estavam muito entretidos com os presentes e a fartura de comida e bebida, parece que não atrapalhei a diversão de ninguém. Bom, agora posso dizer que passar a noite de Natal com um Papai Noel foi uma delícia!
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Crica Fonseca
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