Botas Salto Agulha

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terça-feira

Miss Guided


Acordei pela manhã sem saber onde estava e nem que horas eram. Não me interessava voltar pro meu mundinho de rotinas. Trouxe comigo o gostinho bom de quem esteve num outro planeta qualquer. O melhor de tudo foi ter me sentindo fora do ar. Estava tudo fora da ordem... Pra que ordem mesmo, heim? Em meus delírios peguei minha vassoura dia trinta e um de outubro e ao final da noite fui Miss _ Miss Guided. Entre Bruxas e Emos me restaram olhares curiosos e uma faixa de “a mais bela”. No dia seguinte, de repente, eu estava num inferninho hardcore. Foi bom para me lembrar dos velhos tempos e melhor ainda para perceber que estamos melhores a cada ano que passa! A incoerência parecia piada dentro de mim. Peguei-me rindo de mim mesma. Senti-me menina e velha. Feia e linda. Esteticamente fora do padrão e desejada por quem dita padrão de beleza. O que meu professor de academia estava fazendo naquele lugar? Quase consegui esconder a sensação de ternura por um que já me fez passar raiva. Só alguém com uma alma grande poderia ver o que estava trancado lá dentro do meu coração, e viu. Fiz pouco caso disso. Como dizem os mais novos; “não dá nada, se der é pouca coisa!”. E não deu mesmo... Também não dei o braço a torcer, mas torci o nariz de ciúmes. Outro que me chamou atenção tinha um metro e noventa e cinco de altura, grandes olhos verdes, lindos cachos castanhos e se intitulava metrossexual. Socorro! Eu mereço ouvir isso? Ah! Hahahaha... Vi uma garota de programa que tinha acabado com o namorado e a pobre menina lésbica de quatorze anos. E os caras do pó? Duplinha estranha aquela, credo! O tatuador, sempre na dele, perecia muito bem e os meninos diziam que ele teria mãos de fadas no depois da noitada. Uma vez entre amigos não voltei pra casa. Quando consegui deitar-me um pouco pensei que lá estava eu dormindo numa cama de casal que não era a minha e sozinha, claro. Deixei a porta fechada pra ninguém entrar. Ninguém de fato entrou, mas não me deixaram cair no sono por causa do barulho. A nova namorada do meu grande amigo e dono da casa foi uma ótima companheira de balada e de cozinha. Sempre gosto de pessoas que curtem a natureza, reggae e trance _ acho que seremos boas amigas. Já se passava do meio dia e o pessoal precisava comer e fomos as duas para as panelas. Há muito tempo não me divirto tanto como neste final de semana. Mais de vinte e quatro horas pra bruxa nenhuma botar defeito! Definitivamente, eu estava mesmo precisando me desligar do meu dia-a-dia muito sério e cheio de responsabilidades. Eu havia me esquecido como pode ser bom ficar de bobeira, ficar “curtindo lombra”. E quem liga se eu me desligo uma vez ou outra? Eu nem preciso de drogas para isso. Imagine se eu usasse? (Rsrsrsrs...) De volta a vida me sobrou os risos e a certeza de que eu não preciso levar a vida tão a sério!




Crica Fonseca

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